· 

"Faroeste Caboclo": Wilder Westen in Brasilien

"Faroeste Caboclo" von der Rockband "Legião Urbana" um ihren Kopf Renato Russo ist ein episches Lied, das die Geschichte von João de Santo Cristo erzählt – einem Antihelden, der in Brasília auf der Suche nach Gerechtigkeit und einem besseren Leben scheitert. Die Band nutzt die Ästhetik des Wilden Westens, um soziale Missstände, Gewalt und Ungleichheit in der brasilianischen Gesellschaft zu kritisieren. Die 9-minütige Ballade ohne Refrain ist ein Manifest gegen Korruption und soziale Ausgrenzung.

 

"Faroeste Caboclo" ist wie ein Roman in musikalischer Form. Die Geschichte erinnert an klassische Western: Ein Außenseiter kommt in eine neue Stadt, wird mit Gewalt und Ungerechtigkeit konfrontiert, kämpft gegen einen Rivalen, der das Böse repräsentiert und ihm auch noch die Frau und Liebe seines Lebens, Maria Lúcia, ausgespannt hat, und stirbt am Ende in einem Duell mit dem Widersacher. Doch statt Cowboys und Sheriffs spielt die Handlung in Brasília, der Hauptstadt Brasiliens, und der Held ist kein Revolverheld, sondern ein junger Mann aus dem armen Nordosten des Landes.

Der Wilde Westen steht traditionell für Gesetzlosigkeit, Grenzerfahrung und den Kampf eines Einzelnen gegen ein feindliches System bzw. den Kampf von Gut gegen Böse. Die Band "Legião Urbana" überträgt dieses Bild auf die brasilianische Gesellschaft der 1980er Jahre: eine Gesellschaft, in der soziale Mobilität kaum möglich ist, Korruption und Gewalt den Alltag bestimmen und junge Menschen wie João keine Perspektive haben.

João de Santo Cristo ist ein Symbol für die Marginalisierten Brasiliens. Er wird früh mit Gewalt konfrontiert, landet im Gefängnis, versucht sich zu integrieren, wird aber immer wieder zurückgestoßen. Seine Geschichte ist geprägt von Hoffnung, Enttäuschung und letztlich Rache. Die Band kritisiert damit nicht nur die sozialen Strukturen, sondern auch die politische Realität: Brasília, als Sitz der Regierung und in Renato Russos Sicht in gesellschaftspolitischer Perspektive scheiternde "Stadt der Zukunft", wird zur Bühne für Ungerechtigkeit und Machtmissbrauch.

Die Rivalität zwischen João und Jeremias – einem reichen Drogendealer – spiegelt die Klassenkonflikte wider. João versucht, mit legaler Arbeit Fuß zu fassen, wird aber vom System in die Kriminalität gedrängt. Der finale Showdown, das Duell wie in High Noon, ist nicht nur ein Western-Klischee, sondern eine bittere Metapher für den aussichtslosen Kampf gegen ein übermächtiges Establishment - das schließlich die Oberhand behält.

Musikalisch zeichnet sich das Lied dadurch aus, dass es keinen Refrain hat, aber über 9 Minuten lang dauert. Diese ungewöhnliche Länge für einen Rocksong hat viel zu seinem legendären Status in der brasilianischen Rockmusik beigetragen. Normalerweise würden Produzenten wohl sagen, dass das viel zu lang sei, nicht radiotauglich. Ein Produzent des Songs sagte in einem Interview aber einmal, dass sie das Tonband am Ende extra noch ein paar Sekunden laufen ließen, um über die von heute aus betrachtet "magische" 9-Minuten-Marke zu kommen. Das Fehlen des Refrains und die minimalistische Musik mit der Stimme Renato Russos, der erzählerisch durch die Geschichte führt, erinnert an die Form der Cantoria oder Repente des Nordostens, wo Wandersänger mit Gitarre begleitet spannende Geschichten erzählen, häufig improvisieren und das Publikum in ihren Bann ziehen. 

Der Song wurde sogar in einem Kinofilm verfilmt - das Lied dient dabei wie das Resümee eines Drehbuchs, was die erzählerische Qualität beweist. Den Trailer findet ihr unten bei den Videos. 

Um die Länge des Textes zu zeigen, stelle ich den Text unter den Videos zur Verfügung. Viel Spaß beim Lesen dieses Romans!

 

(Bild: Cassio Sabacão, CC BY 4.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/4.0>, via Wikimedia Commons)

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu
Quando criança, só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze, era professor
Aos quinze, foi mandado pro reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror
Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador

E lá chegando, foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar
Dizia ele: Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar

E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal
Meu Deus, mas que cidade linda
No Ano Novo eu começo a trabalhar
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta-feira, ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô
Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar

E Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar
Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele iria se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E, sem ser crucificado, a plantação foi começar

Logo, logo os malucos da cidade souberam da novidade
Tem bagulho bom aí
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali
Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock pra se libertar

Mas de repente, sob uma má influência
Dos boyzinhos da cidade, começou a roubar
Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
Vocês vão ver, eu vou pegar vocês

Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general
Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
Maria Lúcia, pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter

O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta
Uma resposta do João
Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança, isso eu não faço, não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão
E é melhor o senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse
Você perdeu sua vida, meu irmão

Você perdeu a sua vida, meu irmão
Você perdeu a sua vida, meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão

Não é que o Santo Cristo estava certo?
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar
Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina

Mas acontece que um tal de Jeremias
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que com João ele ia acabar
Mas Pablo trouxe uma Winchester 22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente, mas não sabia rezar
E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
Eu vou-me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar

Chegando em casa, então, ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia, Jeremias se casou
E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã, às duas horas, na Ceilândia
Em frente ao lote catorze, e é pra lá que eu vou
E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora, e o local e a razão

No sábado, então, às duas horas
Todo o povo, sem demora, foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo e começou a sorrir
Sentindo o sangue na garganta
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras
E a gente da TV que filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
Se a Via-Crúcis virou circo, estou aqui

E nisso, o Sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester 22
A arma que seu primo Pablo lhe deu

Jeremias, eu sou homem, coisa que você não é
E não atiro pelas costas, não
Olha pra cá, filha da puta sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão
E Santo Cristo, com a Winchester 22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor

O povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV
E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz

Sofrer